Compartilho convosco um comentário da minha lavra na edição online do jornal i, de 27 de Janeiro, a propósito da elevada taxa de abstenção registada nas últimas eleições presidenciais. Um convite à reflexão ou como consegui escrever tanto sem avacalhar. :)
Vejam a notícia em:
http://www.ionline.pt/conteudo/100198-cavaco-perde-meio-milhao-votos-
A vitória sem chama de Cavaco Silva foi apenas o corolário daquela que, muito provavelmente, ficará para a História como a campanha eleitoral mais desinteressante no pós-25 de Abril. Outra coisa, aliás, não seria de esperar. Com a reeleição do atual Presidente da República mais que assegurada e face ao leque de candidatos que se perfilaram para tentar impedir essa inevitabilidade, muitos eleitores precocemente se desligaram da campanha. Esta pautou-se por uma exasperante vacuidade de ideias, projetos ou soluções para o País, assentando antes na baixa política. Esperava-se que, estando em jogo a eleição da mais alta figura do Estado, o nível do debate fosse proporcionalmente elevado, o que esteve longe de se verificar. Até porque, diga-se em abono da verdade, não existiu um verdadeiro debate democrático ao longo de toda a campanha. A menos, é claro, que se considerem relevantes ou minimamente esclarecedores os diversos debates televisivos onde os vários candidatos dirimiram insinuações e acusações por vezes torpes e cujas audiências atestam bem a indiferença dos espetadores em relação quer ao conteúdo quer ao formato dos mesmos..
Tudo nestas eleições foi demasiado previsível e demasiado cinzento, começando pelos candidatos que avançaram para a corrida a Belém (execeção feita a José Manuel Coelho cujo histrionismo trouxe algum colorido à campanha eleitoral) e terminado no resultado mais do que esperado. Acossado pelos seus adversários devido aos negócios pouco transparentes envolvendo a compra de ações da SLN a preço de saldo, bem como da compra de uma casa de férias no Algarve e apoiado sem grande convicção pela Direita (note-se a ausência de Passos Coelho e Portas na festa da vitória no CCB), Cavaco venceu mas não convenceu, penalizado, entre outras factores, pelas muitas incongruências cometidas ao longo do primeiro mandato e da sua recusa terminante em esclarecer a opinião pública sobre os contornos dos negócios que realizou com o seu velho amigo, entretanto caído em desgraça, Oliveira e Costa. Não admira, portanto, que seja o PR reeleito com menor número de votos, suplantado pela abstenção...
Também o fiasco da segunda candidatura a Belém de Manuel Alegre era previsível dada a perda da principal mais-valia da primeira quando se assumiu como um candidato independente e antissistema, concorrendo mesmo contra o próprio partido. Desta vez Alegre contou com o apoio oficial do PS , o qual revelou ser um presente envenenado. Antes, já Alegre fora brindado com o apoio extemporâneo do BE que tentava capitalizar em seu favor o resultado eleitoral obtido por Alegre há 5 anos. Rapidamente a sua candidatura se tornou, portanto, bipolar. Incapaz de congregar a Esquerda em torno da sua candidatura, Alegre assistiu impotente à transfuga de votos para Fernando Nobre que assumia o lugar de candidato apartidário que outrora lhe pertencera. Nobre pode ter surpreendido com o seu resultado eleitoral mas também provou que não nasceu para a política. O seu discurso teve tanto de entaramelado como de inconsequente, repetindo até à náusea a palavra "cidadania". Nada trouxe, a meu ver, de novo. Apenas mais um produto dos media, não obstante os seus queixumes quanto a um putativo boicote mediático à sua campanha. Veremos o que fará nos próximos tempos. Irá talvez, como Alegre, fundar um qualquer movimento cívico com tanto de banal como de inútil?.
Ilustre desconhecido, Franciso Lopes, logrou, graças à bem oleada máquina de propaganda do PCP, um resultado razoável, apesar de tudo. Pecou por vezes pela demagogia e ortodoxia habituais na retórica comunista. A sua candidatura serviu apenas para subtrair votos a Alegre e pulverizar a Esquerda.
http://www.ionline.pt/conteudo/100198-cavaco-perde-meio-milhao-votos-
A vitória sem chama de Cavaco Silva foi apenas o corolário daquela que, muito provavelmente, ficará para a História como a campanha eleitoral mais desinteressante no pós-25 de Abril. Outra coisa, aliás, não seria de esperar. Com a reeleição do atual Presidente da República mais que assegurada e face ao leque de candidatos que se perfilaram para tentar impedir essa inevitabilidade, muitos eleitores precocemente se desligaram da campanha. Esta pautou-se por uma exasperante vacuidade de ideias, projetos ou soluções para o País, assentando antes na baixa política. Esperava-se que, estando em jogo a eleição da mais alta figura do Estado, o nível do debate fosse proporcionalmente elevado, o que esteve longe de se verificar. Até porque, diga-se em abono da verdade, não existiu um verdadeiro debate democrático ao longo de toda a campanha. A menos, é claro, que se considerem relevantes ou minimamente esclarecedores os diversos debates televisivos onde os vários candidatos dirimiram insinuações e acusações por vezes torpes e cujas audiências atestam bem a indiferença dos espetadores em relação quer ao conteúdo quer ao formato dos mesmos..
Tudo nestas eleições foi demasiado previsível e demasiado cinzento, começando pelos candidatos que avançaram para a corrida a Belém (execeção feita a José Manuel Coelho cujo histrionismo trouxe algum colorido à campanha eleitoral) e terminado no resultado mais do que esperado. Acossado pelos seus adversários devido aos negócios pouco transparentes envolvendo a compra de ações da SLN a preço de saldo, bem como da compra de uma casa de férias no Algarve e apoiado sem grande convicção pela Direita (note-se a ausência de Passos Coelho e Portas na festa da vitória no CCB), Cavaco venceu mas não convenceu, penalizado, entre outras factores, pelas muitas incongruências cometidas ao longo do primeiro mandato e da sua recusa terminante em esclarecer a opinião pública sobre os contornos dos negócios que realizou com o seu velho amigo, entretanto caído em desgraça, Oliveira e Costa. Não admira, portanto, que seja o PR reeleito com menor número de votos, suplantado pela abstenção...
Também o fiasco da segunda candidatura a Belém de Manuel Alegre era previsível dada a perda da principal mais-valia da primeira quando se assumiu como um candidato independente e antissistema, concorrendo mesmo contra o próprio partido. Desta vez Alegre contou com o apoio oficial do PS , o qual revelou ser um presente envenenado. Antes, já Alegre fora brindado com o apoio extemporâneo do BE que tentava capitalizar em seu favor o resultado eleitoral obtido por Alegre há 5 anos. Rapidamente a sua candidatura se tornou, portanto, bipolar. Incapaz de congregar a Esquerda em torno da sua candidatura, Alegre assistiu impotente à transfuga de votos para Fernando Nobre que assumia o lugar de candidato apartidário que outrora lhe pertencera. Nobre pode ter surpreendido com o seu resultado eleitoral mas também provou que não nasceu para a política. O seu discurso teve tanto de entaramelado como de inconsequente, repetindo até à náusea a palavra "cidadania". Nada trouxe, a meu ver, de novo. Apenas mais um produto dos media, não obstante os seus queixumes quanto a um putativo boicote mediático à sua campanha. Veremos o que fará nos próximos tempos. Irá talvez, como Alegre, fundar um qualquer movimento cívico com tanto de banal como de inútil?.
Ilustre desconhecido, Franciso Lopes, logrou, graças à bem oleada máquina de propaganda do PCP, um resultado razoável, apesar de tudo. Pecou por vezes pela demagogia e ortodoxia habituais na retórica comunista. A sua candidatura serviu apenas para subtrair votos a Alegre e pulverizar a Esquerda.
Defensor Moura e José Manuel Coelho mais pareciam candidatos regionais de Viana do Castelo e da Madeira, respetivamente. Nenhuma das candidaturas seria para levar a sério, ainda que Coelho tenha obtido o voto de muitos descontentes com o deplorável estado do país, logrando ficar à frente de Defensor Moura, cacique de Viana do Castelo que, ainda assim, obteve uma votaçao residual na sua cidade.
Face ao exposto. a grande vencedora das eleições presidencias foi, indubitavelmente, a abstenção que atingiu novo recorde. Explicações para este facto há várias: o desencanto de muitos portugueses com a classe política, a previsibilidade do resultado eleitoral, a natureza do cargo em disputa, a fraca qualidade dos candidatos em jogo e, como se isso não bastasse, os problemas burocráticos causados pela utilização do Cartão de Cidadão que contribuiu para a abstençao involuntária de muitos eleitores..
Razões para ir votar no último domingo havia, portanto, poucas. À medida que o tempo passa, o povo vai-se divorciando mais e mais da política. Alguém o poderá censurar? Isto apesar de alguns políticos nos tentarem fazer crer que a abstenção é uma espécie de crime político cometido por cidadãos relapsos a quem é indiferente viver em democracia ou ditadura. Obviamente, é mentira. Esta democracia enferma é que já não serve....
Razões para ir votar no último domingo havia, portanto, poucas. À medida que o tempo passa, o povo vai-se divorciando mais e mais da política. Alguém o poderá censurar? Isto apesar de alguns políticos nos tentarem fazer crer que a abstenção é uma espécie de crime político cometido por cidadãos relapsos a quem é indiferente viver em democracia ou ditadura. Obviamente, é mentira. Esta democracia enferma é que já não serve....
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